sexta-feira, 17 de julho de 2015

Sementes de nós


Houve um tempo em que eu não conhecia o meu lugar no mundo. Bem, como todo mundo. Eu não me enxergava como alguém que poderia ser bonito, como alguém pudesse receber amor, além daqueles dado pelas amigas. Eu não acreditei que eu fosse ser como todas as outras pessoas. Na verdade, eu nunca me tornei o todo mundo, mas isso não quer dizer que eu não tenha me encontrado e me aceitado. Aquele primeiro beijo veio mais tarde, o namorado também e a primeira vez, nem se fale. Sabe, olhando de longe isso tudo agora parece lindo, porque eu aprendi que tudo o que acontecia na vida de todo o planeta não necessariamente tinha que acontecer comigo.

E foi assim que comecei a questionar cada um “tem que” que me apareceu. Eu não precisava ir naquela festa que os amigos adoram, se eu não quisesse. O mesmo vale para as bebidas alcoólicas, porque essas regras são as minhas. Decidi que casar de véu e grinalda não era uma regra e um sonho pra mim, porque acreditar em um sonho que te foi designado a sonhar sozinho, não era bem uma realização pra mim. E lá atrás, antes de escolher grande parte dessas coisas e provavelmente influenciada por Angelina Jolie, eu decidi que queria adotar uma criança.

Simplesmente eu não conseguia aceitar colocar mais alguém no planeta, com tanta gente por aqui precisando de um coração pra morar. E tem o parto, toda aquela fase ~linda~ de amamentação e de ser tratada como um ser mágico, de sabedoria plena, quando a coisa de perto não é bem assim. É claro, isso tudo é realmente maravilhoso para muitas mulheres, mas preciso enfatizar: não pra todo mundo, não pra mim. Esta não é uma aventura que todo mundo pode se aventurar.

O problema da decisão de ter filhos — ou de não tê-los - é que é um passo que não se toma sozinho. Não é bem da sua vida que está cuidando apenas, em vários sentidos. E eu realmente acredito que é possível ser feliz com outra pessoa sem dependência, porque eu vivo isso com meu namorado, todos os dias ou boa parte deles. Por quê? Porque eu também decidi lá atrás que um relacionamento não precisava ser baseado em necessidade, embora cada pedacinho de nós quer se colar um no outro pra nunca mais largar.

Daqui a seis meses eu completo 25 anos. O que significa que posso já ter vivido 1/4 de uma vida longa, o que é pouco se olharmos pra todas as partes da fração, mas muito pra eu já me conhecer. O suficiente pra saber que cada dia eu mudo um pouquinho mais e um pouquinho menos. O suficiente pra saber que sonhar com uma gravidez não é pra mim. O suficiente pra saber que é uma possibilidade indesejada. O suficiente pra eu saber que posso um dia acordar com uma vontade louca de procriar. 

P.S.: Por favor, povoem este mundo com bebês lindos. Alguém tem que criar seres mágicos por mim.

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