segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Blue

A nossa querida Clementine de Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças.
Li em algum lugar que a cor da minha geração era azul. E pra dizer a verdade, não me importo com qual é a cor da minha geração. Mas inevitavelmente tive de fazer o meu histórico azul. 
Eu e minha prima temos uma diferença de idade de três meses. Ela de setembro e eu de dezembro. Nascemos quando nossa família ainda era muito jovem (e é até hoje), por isso, não tínhamos outros primos. Hoje tenho pelo menos uma dezena, já que minhas tias foram casando e procriando. Por sermos as únicas crianças na família naquele período, éramos deliciosamente mimadas por nossas tias. Ganhávamos várias roupas e brinquedos, que geralmente eram iguais. Pra diferenciar as roupas de uma da outra, eu era azul e minha prima vermelha.  E assim começou a minha história azulada. 
Se você me perguntar qual é a minha cor preferida certamente irei responder: amarelo. E amarelo é assim, aquela cor viva, alegre e vibrante, que traz sentimentos bons.  Enquanto o azul em inglês, blue, é sinônimo de tristeza. Mas inevitavelmente, essa é uma cor que me persegue. 
Um dia desses parei pra olhar meu guardarroupa e percebi que tenho uma boa porção de roupas em azul, nos mais variados tons. Por alguma razão, sempre escolho minhas roupas dessa cor e quando paro pra me olhar no espelho acabo tendo que encarar me tornei azul degradê ambulante. Mesmo depois de notar isso, o azul continua entrando no meu armário. 
Acabei recordando da vez em que eu e meu namorado fomos ao cinema assistir Blue Valentine (no Brasil, Namorados para sempre). A ideia não era bem assistir a um filme romântico, mesmo que fosse perto do dia dos namorados, o que de fato não fizemos, mas saímos muito arrasados do cinema. Tivemos de nos entreolhar durante alguns dias com medo de estarmos vivendo algum tipo de história parecida. Não vivíamos. 
Recentemente, cai de amores pelo cabelo azul da Léa Seydoux em La Vie d’Àdele (no Brasil, Azul é a cor mais quente). Que cabelo! Não só pelo cabelo, mas toda atmosfera azul que tem no filme. Um detalhe aqui, outro ali, e tudo azul. O que me fez perceber que já era apaixonada por outro cabelo azul: o da Kate Winslet em Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças. Talvez azul seja mesmo a cor mais quente. Depois de ver minha irmã pintar o cabelo de tantas cores, decidi que faria uma mecha colorida. E depois desse histórico azulado, teria mesmo que ser mechas azuis. 
Não, não nos esqueceremos da atmosfera de Blue Jeans, da Lana Del Rey, que diz "jeans azul, camisa branca" e ainda cita James Dean. Eu confesso não ter entendido qual é a da Lana, mas gosto dela um bocado. E se azul for mesmo a cor da minha geração, tem mesmo de ser interpretado por ela, com sua voz arrastada e com seu excesso de melancolia. 



Sandy Quintans

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Não me deixe partir.

Lembro que pensei muito quando Kathy H. disse que não imaginava que vidas tão intrinsecamente unidas poderiam ser separadas tão facilmente. Se referia aos amigos que cresceram junto com ela, Tommy e Ruth, dos quais quis se separar*. Em determinado momento ela decide que era hora de partir daqueles que foram os mais próximos de uma família, já que eram órfãos. 
Continuei pensando em como ela conseguiu. E acabei chegando a como podemos nos ligar a pessoas que tiveram outras vidas. O contrário acontece.  Compartilhar experiências, intimidades, dizer aquilo que nunca diríamos a mais ninguém. Que louca é a vida. E que louco é pensar que agora somos um só. E mais louco ainda: não percebermos como é que tudo acontece. E pensar nisso dói. E cansa. 
Em um dia estávamos vivendo a dúvida sobre o que fazer em relação a nós dois. Não sabíamos definir o que sentíamos. No outro tínhamos a certeza de que havíamos completado um ao outro. Nossos sonhos estavam ligados, nossa rotina, nossas incertezas, nossos corações. 
Assim como Kathy se rompeu, nós nos construímos. Não consigo dizer como acontece. Mas eu tenho a plena certeza de que acontece. A ruptura, mas também a ligação. 

Por favor, não me deixe partir. 

Sandy Quintans

*Kathy H., Tommy e Ruth são personagens do romance “Não me abandone jamais” de Kasuo Ishiguro. Livro do qual recomendo e que me fez pensar muito sobre a vida e relacionamentos. 

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Não quero lidar.

Estou em uma daquelas semanas que se passam como nos filmes românticos. Bem na hora em que o mocinho (ou a mocinha) é largado, começa aparecer dezenas de casais desfilando na frente do pobre coitado que está passando pela maior fossa. Além de ter que lidar com o amor não correspondido, ainda tem mais essa. E o pior é que com os problemas é igualzinho. Quando você os descobre, parece que tudo o que acontece é apenas para esfregar a realidade na sua cara. Como se nossos problemas já não fossem o suficientes. 
Não, eu não fui largada. Pra ser sincera, a parte romântica da minha vida vai muito bem, obrigada. O problema não é esse. A questão é que depois que decidi que queria ir embora, tudo o que eu penso é em ir embora. Ainda que esse seja um plano a médio prazo. Esse é o problema. A gente passa um tempão sem saber qual é a decisão que precisamos tomar. E quando tomamos, queremos que tudo se resolva o quanto antes. Eu saí mesmo muito a minha mãe. 
Nunca me considerei alguém que fugisse dos problemas, mas hoje eu pensei: "não quero mais". Pode chorar? Pode correr? Pode se esconder? Que vontade de ser criança. Que vontade de não ter que lidar. Mas ai quando nos passam o formulário para ser adulto, nos quadradinhos essa opção não existe e lá vem o tapa na cara. Quando somos adultos, temos que nos esconder no banheiro do trabalho pra ninguém descobrir. E depois ficar incrivelmente sorridente pra ninguém desconfiar. Não quero lidar.
Você já passou por aquele problema uma dezena de vezes, mas ele sempre volta, igual a conta de energia elétrica. Você manda uma faísca, e eles te devolvem um rojão. Você não é a única culpada pela problemas do mundo, mas eles colocam isso nos seus ombros, igualzinho se faz com mochila pesada. Te tratam como se o interesse fosse seu em pagar, mas na verdade o interesse é deles em receber.
Está mesmo tudo trocado, e eu não quero lidar.

Vou tentar parar de falar em código. Basta saber que eu não quero mais ter lidar.

Sandy Quintans